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Em entrevista para a Revista Agora, Luiza Serpa fala sobre o presente e futuro da filantropia

Luiza Serpa, fundadora e diretora executiva do Instituto Phi, foi destaque na edição de julho da Revista Agora, da Ago Social. Na entrevista, ela compartilhou reflexões sobre o presente e o futuro da filantropia. Confira!

O PRESENTE E O FUTURO DA FILANTROPIA
Com Luiza Serpa
Por Fabíola Melo

 

Luiza Serpa fala sobre os desafios da cultura de doação no Brasil e o amadurecimento do setor

Há mais de uma década realizando um trabalho indispensável de interlocução entre doadores, investidores e projetos sociais, o Instituto Phi atua hoje a partir da ideia de “filantropia ativa”, um termo que representa uma filantropia buscando encontrar novos caminhos para trazer mais gente para perto, que pode ser surpreendida e tentar cobrir lacunas que existem. O que se representa também no papel do Phi, que une o que cria soluções sociais e metodologias com o que viabiliza esses recursos e os impulsiona.

Nesta entrevista, Luiza Serpa, fundadora e diretora do Instituto Phi, reflete sobre o amadurecimento da cultura da doação no Brasil, os desafios e a sustentabilidade no terceiro setor e se considera otimista para o futuro.

Ao longo de onze anos, quais certezas se consolidaram para você a respeito da geração de impacto?
O que eu gosto sempre de dizer é que já sabia, mas agora consigo comprovar: dentro do setor, a maioria é de pessoas boas, tentando fazer o melhor possível dentro de cada realidade. Essa constatação é muito importante para não haver nenhuma dúvida quanto à importância e à capacidade das organizações sociais no Brasil. A gente está falando de lideranças comunitárias que conseguem fazer muito com muito pouco. Imagine se essas pessoas tivessem mais oportunidades, o potencial seria ainda maior. Outra certeza é de que a relação muito próxima que nós temos com os projetos é a melhor forma de fortalecê-los. Além disso, precisamos deixar que eles mostrem quais são os caminhos (em vez de chegarmos com uma receita pronta) e estarmos ali para dar suporte.

Quais mudanças significativas na filantropia você percebeu nesses últimos anos? Podemos dizer que a cultura de doação amadureceu no Brasil?
Sim, de forma mais lenta do que gostaríamos, mas acredito que sim. Nós falamos muito mais dessas temáticas hoje do que se falava há dez anos. Vejo evolução até mesmo pelos números do Phi: ao longo do tempo, o crescimento de doadores e do valor financeiro mostra que mais gente está se importando e buscando caminhos. Outro fato é que o setor vem se profissionalizando e se consolidando. E ainda, temos o fato de que muitos empresários já entendem que não dá mais para ficar de fora da conversa. Eu acredito também que as novas gerações começam a influenciar as decisões dos negócios, da família, e estão preocupadas se haverá futuro. Sem contar no milhões de mulheres nessa transição! Portanto, eu confio nessa mudança de mãos do dinheiro.

Quais você considera os maiores obstáculos para a filantropia hoje no Brasil?
O primeiro é o egoísmo do ser humano, de maneira geral. Talvez um grande medo de escassez, o que faz com que, mesmo tendo muito, a pessoa continue acumulando. Essa é uma grande barreira, essa falta de consciência a respeito dos danos causados pela desigualdade absurda em que vivemos. Tudo isso foi historicamente construído, causando um enorme distanciamento do senso de coletividade. Vai da educação, é questão de consciência e valores pessoais (eu gasto no final de semana uma fortuna em uma garrafa de vinho, mas o mesmo valor para outra coisa, acho demais). Outra questão é que não temos leis no país que incentivem a doação. Mas, se de fato, a gente estivesse preocupado com isso, essas leis seriam criadas. Uma sociedade que se preocupe e queira uma mudança vai criar os ambientes favoráveis para isso, assim como algumas coisas já avançaram nesse sentido.

Quais tendências você acredita que vão marcar o futuro da filantropia e do investimento social privado no Brasil?
As doações coletivas podem ser uma tendência — quando grupos se juntam para doar a alguma causa ou projeto específico. Também estamos avançando muito para a filantropia baseada em confiança, reduzindo a burocracia e a sobrecarga para uma organização social prestar contas. No Phi, passamos muito tempo repensando esse formato para reduzir um pouco essa carga. A mudança de geração que está vindo também deve trazer novas tendências. Outro fator são as emergências ligadas às mudanças climáticas. A consciência coletiva de que elas mudam completamente um determinado lugar e afetam a todos pode ser um caminho. Acredito, ainda, que as pequenas e médias empresas também passarão a doar, percebendo que não são somente as grandes corporações que podem fazer isso. Por fim, tem uma tendência de que outras organizações semelhantes comecem a se aproximar, também propondo novos formatos de atuação e colaboração.

Como aproximar a filantropia e o investimento social privado da construção de modelos de sustentabilidade para as organizações sociais?
Essa é uma discussão antiga, mas acredito que também avançamos nessas conversas para entender que uma organização bem estruturada consegue ter melhores resultados. Os apoios pontuais não sustentam ninguém. Essa discussão já se ampliou, o que faz parte da construção de uma filantropia e de uma cultura de doação mais sólida. Havia muito medo de se falar sobre isso, até para não perder a doação completa, e as organizações ainda têm receio e dificuldade de mostrar os custos reais. A gente vive muito isso no Phi: a própria organização vai negligenciando o ideal de custos para ela funcionar bem, porque sente que pode ser uma afronta citar o valor real. Só que os doadores são pessoas que vivem no mundo real e sabem o quanto as coisas custam. Por isso, é muito ruim deixar de ter conversas francas sobre os custos. Falar sobre isso de forma transparente, além de ter esses cálculos de custos bem feitos internamente, são um bom caminho.

Como você vê essas atuações em rede? Qual é a importância dessa prática?

Eu concordo totalmente com o que se diz: que este é o único caminho possível, trabalhar em rede, se fortalecer e fazer juntos. Só que, na hora 

de sentar à mesa para colocar em prática, isso funciona mal. Acontece porque, no final das contas, cada um está olhando para o próprio umbigo, querendo salvar a sua própria organização ou ter uma ideia que se destaque mais. O ego atrapalha a construção coletiva. Muita gente já está mudando essa mentalidade, tentando encontrar pontos comuns para o fortalecimento. É uma turma que tem menos necessidade de palco. Por isso, as colaborações que não aparecem muito, às vezes, são as que mais funcionam.

Para ler essa e outras matérias, acesse: https://conteudo.agosocial.com.br/revista-agora-assinatura-ed-impressa

 

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