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Artigo Observatório do Terceiro Setor: O que aprendi em 10 anos liderando uma organização social
Mesmo quando uma organização tem um ótimo desempenho, reservar um tempo para refletir e, se preciso, fazer mudanças em processos estabelecidos, pode ajudar os líderes a navegarem até mesmo nos mares mais bravos. Especialmente quando completamos alguns marcos na nossa vida, fica impossível não parar para fazer esse balanço. Eu fiz e compartilho aqui minhas 14 lições mais valiosas.
- Aprendi que o tempo passa muito rápido e atropela as ideias. Isso quer dizer que sentamos e planejamos mil coisas, mas somos engolidos na rotina do dia a dia, deixando uma pilha de sonhos engavetados. Esforce-se para tirá-los da gaveta!
- Aprendi que a vaidade destrói lindas ideias e parcerias. Não importa o quão inteligentes as pessoas acham que são, elas devem estar sempre abertas a mudanças e prontas para se adaptar. Precisamos aplicar essa perspectiva com financiadores, parceiros e aqueles a quem servimos.
- Aprendi que nesse setor alguns grupos se protegem entre si para que os novatos não tragam suas novas ideias e balancem o coreto. Mas aprendi também que as parcerias certas podem mover montanhas! Não se deixem intimidar!
- Aprendi que quem está na ponta sabe o que faz e faz muito bem feito com pouco ou nenhum recurso. São essas experiências que podem se tornar modelo para políticas públicas eficazes.
- Aprendi que a vida não é justa. Quem tem dinheiro consegue testar e errar, até acertar. Para quem não tem, fica difícil até se mover. Este é o tamanho do desafio que a maioria das ONGs enfrentam: para que possam executar seus projetos com qualidade, é fundamental que invistam nas suas estruturas.
- Aprendi que ter alguém que confia em seu potencial faz toda a diferença e traz resultados. Os processos criativos precisam de espaços flexíveis, onde é possível se mover livremente e até errar: um erro serve para “adubar o terreno” em que novas ideias surgirão.
- Aprendi a não acreditar em tudo que vejo nas mídias e redes sociais e a nunca comparar o meu trabalho com essas imagens fantasiosas. Organizações que investem na busca incondicional pelo view são como castelos de areia. Uma hora caem, pois são vazias.
- Aprendi que liderar é solitário, mas quando você encontra um grupo de confiança as trocas são incríveis! Encontros para trocas simples pode oferecer ideias e soluções que não estão no radar nem mesmo dos tomadores de decisão mais bem-intencionados.
- Aprendi a perseguir o autocuidado. Lideranças do terceiro setor costumam enfrentar uma rotina exaustiva, abraçando múltiplos papéis e frequentemente se sentindo isolados. Mas os intervalos, além de fundamentais para preservar a saúde física e emocional, são fontes de inspiração para desafios organizacionais.
- Aprendi que muita gente precisa criar projetos autorais, mesmo que sejam cópias recauchutadas de antigas ideias. Todos nós queremos ter a próxima grande ideia. Às vezes, devido ao tempo e aos recursos, isso simplesmente não é possível. Se sua ideia não for nova ou criativa, mas funcionar bem para atingir um público-chave e reunir doações, isso é perfeitamente bom!
- Aprendi que trabalhar duro é para poucos. Encontre esses poucos. Há uma frase na música “Circle of Life”, de Elton John (em O Rei Leão!) que diz que “há mais para se fazer do que pode ser feito”. Por tanto, é somente assim, com trabalho duro, que você alimenta a mudança contra todas as probabilidades.
- Aprendi que sempre serei vilã na história de alguém e já durmo bem com isso. Portanto, quebre o máximo de barreiras que puder e está tudo bem se alguém não gostou!
- Aprendi a não julgar pessoas que vivem em realidades completamente diferentes de mim e a ser empática a isso. É preciso humildade para manter a mente e o coração abertos para criar espaço dentro de si para o aprendizado contínuo.
- Aprendi a ser fiel às minhas crenças e a dizer mais nãos. Ao entrar no terceiro setor, fiquei surpresa ao ver que nem todo mundo está realmente alinhado com os valores de sua missão. Para mim, proteger a humanidade é uma responsabilidade de tempo integral.
Luiza Serpa é fundadora e diretora executiva do Phi e colunista mensal do Observatório do Terceiro Setor, onde escreve sobre filantropias ativas. Este artigo foi originalmente publicado no Observatório do Terceiro Setor. Você pode conferi-lo na íntegra no site do Observatório: https://observatorio3setor.org.br/o-que-aprendi-em-10-anos-liderando-uma-organizacao-social/
Artigo Observatório do Terceiro Setor: O que é Venture Philanthropy?
Quando ouvi o termo “Venture Philanthropy” pela primeira vez, fui logo fazer a tradução para o português e achei interessante. “Filantropia de risco”: tá aí, gostei. Mas, me envolvendo mais com o termo, fui entendendo que se tratava na verdade de um grande guarda-chuva para tudo que se relaciona com impacto.
Com o tempo, foi começando a ficar mais fácil entender. Embaixo deste guarda-chuva, existe uma grande régua de possibilidades – desde a filantropia tradicional, passando pela blended finance, que une filantropia e investimento, chegando ao investimento em negócios – destacando-se que, em primeiro lugar, está sempre o impacto sócio ambiental.
O conceito é um convite à colaboração e à inclusão para causar impacto. E foi assim, dizendo que “o dinheiro por si só não gerará mudanças sociais”, que a CEO da Latimpacto Carolina Suárez abriu a 3ª edição Impact Minds 2024, a conferência da rede vinculada a um movimento global de Venture Philanthropy para filantropos de risco na América Latina e no Caribe. O evento reuniu mais de 650 participantes de 36 países, representando 210 organizações, em Oaxaca, México, de 9 a 12 de setembro.
Tive a oportunidade de conduzir, no evento, a palestra “Êxitos na Filantropia: histórias de sucesso na Venture Philanthropy”, contando como pouco dinheiro pode impactar organizações menores, que passam a triplicar seus resultados. Um destaque do conceito é que ele traz modelos de financiamento personalizado e com medição do impacto de ações socioambientais, além de valorizar o apoio estratégico, tão importante para a consolidação de organizações e negócios de impacto.
Podemos notar que um diferencial na abordagem são o comprometimento a longo prazo e a proximidade entre os financiadores e as organizações, garantindo que sejam mais resilientes, consolidadas e sustentáveis, com o objetivo de gerar mudanças sistêmicas. Outra característica é uma maior tolerância a assumir riscos, ajudando a fortalecer as entidades e negócios sociais e incentivando soluções disruptivas para problemas socioambientais complexos.
Marcada por grandes contrastes, a América Latina tem imensas questões sociais, econômicas e ambientais, mas também uma economia pujante e uma rede consolidada de organizações da sociedade civil e empreendedores sociais, com soluções inovadoras e criativas para enfrentar estes desafios.
O interessante do conceito é que ele atrai todo tipo de perfil de investidores para impacto, desde os mais conservadores até os mais progressistas. A Latimpacto foi fundada há quatro anos, justamente com o compromisso de dar suporte na promoção de uma maior diversidade para aplicação deste capital. A percepção é de um ecossistema com muitas oportunidades de articulação e desenvolvimento.
Com baixa colocação na última edição do World Giving Index – o ranking mundial de solidariedade – o Brasil precisa inspirar novos atores e incentivar novas conexões intersetoriais. Em 2024, o ficamos na posição 86, com doações para ONGs praticada por apenas 29% da população. Fica, então, o convite para que investidores sociais, de um lado, e todo o ecossistema social brasileiro, de outro, possamos nos unir para reduzir as desigualdades na nossa região.
Luiza Serpa é fundadora e diretora executiva do Phi e colunista mensal do Observatório do Terceiro Setor, onde escreve sobre filantropias ativas. Este artigo foi originalmente publicado no Observatório do Terceiro Setor. Você pode conferi-lo na íntegra no site do Observatório: https://observatorio3setor.org.br/o-que-e-venture-philanthropy/
FID – Fundo de Inovação para o Desenvolvimento
O FID – Fund for Innovation in Development apoia projetos inovadores com foco em impacto social e econômico, oferecendo financiamentos entre €50 mil e €4 milhões (aproximadamente R$ 275 mil a R$ 22 milhões), de acordo com a etapa do projeto — da ideia inicial à implementação em larga escala.
A chamada está aberta o ano todo e organizações de qualquer porte podem participar. As propostas devem apresentar potencial de impacto, custo-benefício e escalabilidade. O fundo incentiva parcerias entre OSCs, pesquisadores, governos e setor privado.
Uma ótima oportunidade para quem quer desenvolver soluções transformadoras com apoio financeiro e técnico.
Saiba mais em: https://fundinnovation.dev/en/launch-project
Duration: ativismo feminino, edital, juventude feminina.
Oportunidade de financiamento: Dory Foundation
A Dory Foundation oferece apoio a iniciativas promissoras e em estágio inicial, com doações entre US$ 10 mil e US$ 250 mil. Não há restrição temática: o foco está em projetos que possam construir um futuro melhor — especialmente diante de um mundo em que a inteligência artificial transformará profundamente o trabalho.
Se sua organização está atuando de forma relevante e inovadora, a fundação está aberta a apoiar com recursos financeiros livres de amarras (unrestricted grants).
Saiba mais em: https://www.doryfund.org/
Duration: ativismo feminino, edital, juventude feminina.
Pesquisa Desafio das ONGs – Instituto Phomenta
Quais são os maiores desafios das ONGs no Brasil?
Se sua organização enfrenta dificuldades para captar recursos, formar uma equipe qualificada ou conquistar visibilidade, saiba que você não está sozinho.
Na Pesquisa Desafio das ONGs, o Instituto Phomenta, ouviu mais de 400 ONGs de todo o país e reuniu os principais obstáculos do Terceiro Setor, além de caminhos para enfrentá-los com mais sustentabilidade.
Acesse dados exclusivos, reflita sobre estratégias possíveis e conecte-se com quem também vive a realidade do setor social.
Saiba mais: Instituto Phomenta
Duration: desenvolvimento institucional, terceiro setor.
Dicas de filmes, livros e mais – Junho 2025
Junho é um mês cheio de reflexões importantes. Celebramos o Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06), o Dia Mundial do Refugiado (20/06) e o Mês do Orgulho LGBTQIAP+, entre outras datas que nos convidam a pensar em direitos humanos, inclusão, diversidade e preservação do nosso planeta.
Para quem quer se informar, se inspirar e ampliar o olhar sobre essas causas tão essenciais — e que fazem parte do trabalho do terceiro setor — preparamos algumas dicas de filmes, livros, documentários e podcasts. São histórias que emocionam, educam e nos ajudam a construir um mundo mais justo e plural.
Livro
Valentes: histórias de pessoas refugiadas no Brasil
Autor: Aryane Cardoso e Duda Porto de Souza
O livro Valentes, das jornalistas Aryane Cararo e Duda Porto de Souza, reúne relatos emocionantes de pessoas refugiadas de mais de quinze nacionalidades que buscaram no Brasil um lugar seguro para viver, fugindo de dificuldades financeiras, perseguições políticas, religiosas, étnicas, de gênero ou orientação sexual. Além das histórias de vida, a obra traz um panorama histórico e informativo sobre o refúgio no Brasil e no mundo, com dados, conceitos e infográficos sobre os principais conflitos que impulsionam as migrações forçadas. Com linguagem acessível e sensível, Valentes combate desinformação, preconceito e xenofobia, e contribui para o debate humanitário com empatia e informação.
Filme
Homem com H – 2025
Homem com H (2004) é um documentário dirigido por José Sette que mergulha na trajetória artística e pessoal de Ney Matogrosso, um dos maiores ícones da música e da cultura brasileira. Com sua voz única, presença de palco marcante e estética transgressora, Ney quebrou barreiras de gênero, sexualidade e comportamento desde os anos 1970, desafiando tabus em plena ditadura militar.
Disponível no streaming Netflix a partir de 17 de Junho.
Documentário
O Sal da Terra – 2014
Recentemente nos despedimos de Sebastião Salgado, um dos maiores fotógrafos documentais do mundo e uma referência na luta pela preservação ambiental. Além de registrar com maestria temas como migração, desigualdade e natureza em suas imagens icônicas, Salgado também foi um dos fundadores do Instituto Terra, dedicado à recuperação da Mata Atlântica no Brasil.
Sua trajetória e sua visão transformadora estão retratadas no documentário O Sal da Terra (2014), dirigido por Wim Wenders e por seu filho, Juliano Ribeiro Salgado.
Um convite potente à reflexão sobre a relação do ser humano com o meio ambiente e com as grandes questões sociais do nosso tempo.
O documentário está disponível no Globoplay.
Luiza Serpa, co-autora do livro “Mulheres no Terceiro Setor”, ganha destaque na mídia compartilhando sua trajetória de impacto social
Luiza Serpa, co-autora do livro “Mulheres no Terceiro Setor”, ganha destaque na mídia compartilhando sua trajetória de impacto social
Luiza Serpa, fundadora do Instituto Phi e uma das co-autoras do livro Mulheres no Terceiro Setor, da Série Mulheres, da Editora Leader, foi destaque em diversos veículos de comunicação, onde compartilhou sua história e experiência no campo da filantropia estratégica.
No livro, Luiza conta como deixou uma carreira promissora na área de comunicação corporativa para se dedicar ao Terceiro Setor. Em 2014, fundou o Instituto Phi, que hoje completa 11 anos de atuação, tendo apoiado mais de 2183 projetos sociais em todo o Brasil, movimentado R$243 milhões e impactado a vida de mais de 3,6 milhões de pessoas. Com uma proposta inovadora, o Phi conecta doadores — indivíduos, famílias e empresas — a organizações sociais alinhadas com as causas de cada investidor, promovendo uma filantropia transparente, recorrente e transformadora.
A participação de Luiza no livro integra o primeiro volume da Série Mulheres, projeto que destaca histórias inspiradoras de mulheres que atuam na transformação socioambiental. O livro foi lançado em abril de 2024.
Em suas entrevistas, Luiza reforça sua missão de ser uma ponte entre quem deseja ajudar e as organizações sociais que promovem impacto real: “Levo as oportunidades para que as pessoas experimentem a filantropia de forma segura e estruturada”, afirma.
O reconhecimento crescente de sua trajetória reafirma a importância do diálogo sobre filantropia estratégica e o papel essencial de mulheres no fortalecimento do Terceiro Setor.
Confira na íntegra:
O Globo: https://oglobo.globo.com/blogs/ancelmo-gois/post/2024/04/duas-linhas-e-meia-04-04-2024.ghtml
Folha de São Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/folha-social-mais/2024/04/mulheres-abordam-em-livro-carreira-no-terceiro-setor.shtml
Sou Segura:
Revista Hashtag:
https://revistahashtag.com.br/luiza-serpa-conta-sua-historia-como-empreendedora-social/
Artigo: Building philanthropic legacies committed to strengthening democracy, pelos colaboradores Phi Marcello Stella and Vivian de Almeida
We need to reconsider the very foundations of philanthropy. That is the challenge of Rob Reich, in his book Just Giving: Why Philanthropy Is Failing Democracy and How It Can Do Better, which explores the relationship between philanthropy and the fight against social inequalities.
Reich proposes that philanthropy should cease to be thought of merely in terms of the individual moral motivations for giving and, instead, be designed and studied from the perspective of its public ethical duty to the world. This shift in perspective is not just an academic exercise; it’s a necessary recalibration in our fight against deep-rooted social inequalities.
This is because focusing on individual motivations for giving tends to paint an overly positive picture of philanthropic activities, which, as the author shows, does not always hold true in reality. There are scenarios in which philanthropy can contribute to increasing inequalities, consolidating a plutocratic and asymmetric exercise of power by elite figures who run projects and foundations that are often unresponsive, lacking transparency, and closed to democratic dialogue with civil society.
A model for reviving democracy through philanthropy
In recent years, the global political landscape has been marked by the rise of far-right conservative movements, often linked to popular dissatisfaction with political elites and the perceived lack of effective responses to growing economic and social inequalities. The examples are numerous, especially when considering the global political scene in the 21st century, with political polarization and widespread attacks on civil rights. Understanding our place in this context, and considering family philanthropic intervention as a tool to defend the Rule of Law and its guarantees, we present the case of Marcio Thomaz Bastos and his family legacy, managed in collaboration with the Instituto Phi.
This legacy is built with a focus on the public ethics of philanthropy and an idea of transgenerational social justice, which has aimed to become a tool for strengthening democracy and the rule of law in Brazil, as well as facilitating and expanding concrete access to the guarantees and rights formally provided for in the Brazilian constitution.
This endeavour builds on the continuous actions of Marcio Thomaz Bastos throughout his career. In 2024, it’s been 10 years since his passing, yet many of the causes he championed remain crucial to the construction of a more democratic, just, and equitable nation. His leadership during the drafting of Brazil’s constitution as president of the Brazilian Bar Association (OAB), his role as Minister of Justice in the establishment of the National Justice Council, the passage of the Disarmament Statute, and the demarcation of key indigenous lands are examples of how Thomaz Bastos consistently demonstrated an ethical commitment to building a democracy that serves its citizens and ensures the actual realization of socioeconomic rights and guarantees.
Following in Marcio’s footsteps, since 2022, the MTB Legacy has supported 21 social projects from 14 different organizations, distributing R$ 1,300,802.45 across five Brazilian regions: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, and Maranhão. During this time, 1,250 kilograms of food were distributed to low-income families; 49 students were trained on judicial errors and flaws in the Brazilian legal system; at least three people wrongfully convicted had their cases reviewed and were released; and there were at least 285 mentions of supported projects in the media.
Through initiatives founded by Bastos, such as the Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), which continues to be supported by his family and Instituto Phi, he worked to ensure that all citizens, regardless of social class, had access to fair legal defense and impartial trials – essential pillars of any democracy. His work also sought to create rights defense mechanisms that were inclusive and representative of the country’s diversity, promoting social justice that goes beyond legal formalities.
In a time of democratic backsliding around the world, Bastos’ efforts and his commitment to the rule of law provide a model of how philanthropy can be used not only to alleviate the symptoms of injustice but also to address its structural causes, thereby strengthening the foundations of democracy and equity. This is a vision of philanthropy aimed at creating and maintaining strong systems that ensure democratic progress and the protection of fundamental rights for the future.
The legacy of Marcio Thomaz Bastos remains deeply relevant today, especially considering the current challenges to democracy and human rights. As political movements threaten democracy, Bastos’ initiatives remind us that strengthening democratic institutions and protecting civil rights are essential to building just and equal societies. Ten years after his passing, the flame that Thomaz Bastos ignited to safeguard democracy and access to rights continues to burn, serving as a source of inspiration for both the philanthropic sector and broader civil society.
Marcello Stella is doing a PhD in Sociology at the University of São Paulo (USP) and Social projects Coordinator at Instituto Phi. Vivian de Almeida is studying a Master’s in Sociology at the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) and Social Projects Analyst at Instituto Phi.
Confira o artigo na íntegra: https://www.alliancemagazine.org/blog/building-philanthropic-legacies-committed-to-strengthening-democracy/
Fábio Deboni: “Nosso setor está com o ego inflado e a gente precisa falar mais honestamente sobre isso”
O discurso é bonito, os eventos são cheios de palavras como “transformação”, “inovação” e “parceria”, mas, nos bastidores, o setor social vive contradições que raramente vêm à tona. Métricas que mais escondem do que revelam e uma cultura de vaidade institucional são apenas algumas das questões apontadas com franqueza por Fábio Deboni.
Engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP e mestre em Recursos Florestais, Fábio tem mais de 20 anos de atuação no campo socioambiental e no terceiro setor. Passou pelo Governo Federal, pelo Instituto Sabin, foi membro do conselho do Gife e hoje é diretor de programas da Aliança Bioversity-CIAT. É também autor do livro O que não te contaram sobre impacto social, escreve diariamente em seu blog e produz, desde 2019, o podcast Impacto na Encruzilhada, onde propõe análises críticas sobre a atuação de filantropos, organizações sociais e negócios de impacto no Brasil.
Nesta entrevista, Fábio fala sem rodeios sobre os modismos do setor, os limites das métricas e os desafios concretos enfrentados pelas organizações da sociedade civil.
1. Em seus textos, você critica a superficialidade com que o termo “impacto” é utilizado. Como seria uma abordagem mais realista, ética e eficiente?
No meu livro, tento fazer um pouco esse debate sobre o termo impacto social, que na realidade “rebatizou” o termo transformação social, com o qual me identifico mais — embora esteja em desuso. Para além desse rebranding, vieram novas expressões como “investimento de impacto”, que é a ideia de fazer transformação social por meio de abordagens de mercado. E quem está escutando essa conversa muitas vezes não consegue separar de que impacto estamos falando. Um dos efeitos dessa roupagem é que se priorizam métricas, e se reduz a visão humana.
De uma hora pra outra, só serve impacto social que for quantificável. E aí entra a quantidade de hectares restaurados, número de vidas salvas… Quando você coloca a lupa, vê que tem exagero. Se pegar os dados de todas as organizações que atuam na Amazônia, por exemplo, e somar a quantidade de hectares que dizem ter restaurado, vai dar uma área muito maior do que a própria Amazonia. Isso acontece porque virou quase uma obrigação transformar tudo em número. Só que muito trabalho bonito acaba ficando invisível nesse processo — não porque é irrelevante, mas porque não cabe nessa lógica da métrica pura.
2. No livro “O que não te contaram sobre impacto social”, você aponta verdades incômodas do setor. Quais destacaria?
Uma delas é essa ideia de que o setor social é todo colaborativo, que todo mundo é parceiro, irmão, camarada. Isso é falácia. Não estou dizendo que está todo mundo puxando o tapete do outro, mas quando você conhece as entranhas das organizações, vê que é como qualquer outro ambiente: tem disputa, vaidade, competição. Na pandemia, houve esse discurso bonito de que o setor se uniu, criou redes, e de fato aconteceu. Mas isso não se sustentou. Hoje o setor está numa lógica de “farinha pouca, meu pirão primeiro”, e essa colaboração ficou restrita a certos círculos.
Outra questão é a priorização da mensuração. Parece que só é valorizado o que tem número. E isso cria uma distorção: projetos muito relevantes que têm dificuldade de “medir” ficam pra trás. Já outros que conseguem mostrar gráficos e relatórios ganham mais atenção dos financiadores, mesmo que o impacto real seja menor. Aí vem o dilema: a gente sabe que o nosso trabalho é pouco quantificável — e mesmo assim precisa virar número. Isso precisa ser debatido com honestidade.
Tem também o problema do custo da mensuração. Hoje não basta dizer que gera impacto positivo, você precisa comprovar. E isso envolve processos caros. Poucas organizações conseguem bancar uma mensuração séria e consistente. Isso criou quase um subsetor dentro do nosso setor, que são as butiques de mensuração. É bonito no discurso, mas inacessível pra maioria.
3. O podcast “Impacto na Encruzilhada” aborda temas polêmicos. Qual episódio você destaca como mais provocador?
Nossa, isso é como pedir para escolher o filho preferido, mas dois me marcaram bastante. O episódio 187, chamado “Ao financiador, tudo”, fala sobre como o financiador coloca os prazos, estabelece as regras, tem o dinheiro na mão e faz o que quiser — e ninguém pode falar nada. A gente entra num círculo vicioso em que todo mundo quer agradar o financiador.
Outro episódio que teve muita repercussão foi o 127, “O que não te contaram sobre cultura de doação”. Muita gente escuta até hoje. A questão não é ser contra a cultura de doação — todo mundo quer um Brasil mais doador. Mas o debate é muito raso, evita questões políticas, e a gente pisa em ovos quando o assunto são os milionários e bilionários. Ninguém quer questionar como essas fortunas foram geradas, e mesmo quando parte do dinheiro vai pra filantropia, é só uma fatia pequena. Esses dois episódios fiz sozinho, sem convidado, então consegui ir mais fundo. Quando tem convidado, a gente alinha pauta antes e evita colocar alguém na saia justa — mas depois que desliga a gravação, surgem mil outras camadas.
4. Você já mencionou a “juniorização” do setor. Pode explicar esse conceito?
Esse termo não é meu, já circula por aí. É primo-irmão da flexibilização trabalhista. O setor sempre viveu com poucos recursos, mas agora a escassez está ainda maior. Então, para reduzir custos, muitas organizações demitem suas equipes e contratam PJs. Algumas pessoas se adaptam bem, outras se ferram. Além disso, há uma tendência de contratar pessoas mais júniores porque são mais baratas. Mas nem sempre essas pessoas conseguem segurar a bronca de projetos complexos. Isso vale também para consultorias: tem muito júnior entrando e fazendo leilão de preços, mas sem capacidade de entrega.
É algo que acontece em vários setores, mas no nosso isso é pouco falado. Aqui tudo é “lindo”, “transformador”, todo mundo vendendo inovação, mas a verdade é que muita gente sênior e estratégica está sendo escanteada porque é mais cara. E isso impacta diretamente na qualidade do que se entrega.
5. Quais os principais desafios para a sustentabilidade das organizações hoje?
Eu diria três pontos. Primeiro: essa tal sustentabilidade econômica realmente existe? Para quem ela existe? A verdade é que a maioria das organizações está sempre pedalando pra captar recurso. Isso é super perverso. A gestão estratégica acaba ficando na mão de gente mais júnior, que não tem experiência para decisões de médio e longo prazo.
Segundo: tem se falado muito em “recurso livre”, e isso é um avanço, mas ainda é um discurso que não se concretiza na prática. A maioria dos financiadores no Brasil não disponibiliza esse tipo de recurso. É uma armadilha: todo mundo fala que é importante, mas na prática é a conta-gotas.
Terceiro: como estão sempre buscando recursos, as OSCs acabam se moldando aos desejos do financiador. Viram uma espécie de garçom, ajustando o cardápio ao gosto do freguês, mesmo que isso signifique se afastar de sua missão. Às vezes fazem “qualquer negócio” e se descolam do território, da comunidade. Não estou dizendo que está certo ou errado — mas precisa ser assumido honestamente. Muitas vezes se usa o vínculo com a comunidade como cortina de fumaça.
6. Que habilidades você considera essenciais para quem quer atuar com impacto social nos próximos anos?
Acho que a primeira é ser solucionador de situações. Às vezes me taxam de crítico demais, mas uma coisa é pensamento crítico, outra é não fazer nada. As OSCs muitas vezes ficam presas no diagnóstico, ou usam uma ferramenta que virou “remédio pra tudo”. Precisamos buscar soluções mais efetivas e fazer a parada acontecer, mesmo sem condições ideais.
Segundo, precisamos abraçar os novos tempos. Na área ambiental, tem mil soluções baseadas na natureza, novas ferramentas… mas as pessoas são as mesmas de 20 anos atrás. Ficam cristalizadas numa forma de pensar. Não dá pra se fechar às novas abordagens, mas também não dá pra se vender totalmente a elas. A própria inteligência artificial, por exemplo: tem gente dizendo “sou contra”, mas será que não vale buscar o que ela tem de útil?
Por fim, acho que nosso setor precisa calçar mais as sandálias da humildade. O ego está muito inflado. O cenário está desafiador, e nos eventos todo mundo aparece com discurso ensaiado, media training afiado… mas no fundo é só auto confete. Todo mundo se diz inovador. Se isso fosse verdade, a gente não estaria com tantos problemas
De egresso do sistema penal à retomada da vida em sociedade: uma nova história, com o apoio da ASAB
Taualasse tem 33 anos e chegou à Associação Solidária Amigos de Betânia – ASAB em 2023, encaminhado pela Central Reguladora de Vagas – CRAF Tom Jobim. Sem documentos, analfabeto e recém-egresso do sistema penal, onde esteve por oito anos, ele trazia consigo um passado marcado por grandes desafios — e a esperança de uma segunda chance.
A ASAB atua com a reinserção na sociedade da população masculina em situação de rua, com apoio 24h nas unidades na Freguesia e Santíssimo. Ao longo do programa, Taualasse passou a compartilhar sua trajetória, os obstáculos que enfrentou e os motivos que o levaram à detenção por envolvimento com o tráfico de drogas. Expressou, desde cedo, o desejo de mudar de vida — especialmente por sua filha de 10 anos, que vive com sua irmã e com quem ele sonha em ser mais presente.
No início, Taualasse era tímido e reservado. Mas logo manifestou a vontade de aprender a ler e escrever, começando pelo próprio nome, para que pudesse, enfim, assinar seu RG. Foi então inserido nas aulas de reforço escolar, oferecidas semanalmente na instituição por uma professora voluntária. Após três meses, conseguiu escrever seu nome e, com grande entusiasmo, procurou o Serviço Social para mostrar sua conquista. O momento foi celebrado com orgulho por toda a equipe.
Hoje, Taualasse trabalha com carteira assinada em um restaurante renomado no bairro de Botafogo, onde tem se destacado e recebido reconhecimento da gerência. Está de mudança para um imóvel alugado e planeja trazer sua filha para passarem mais tempo juntos nos fins de semana.
Essa é uma vitória não só para Taualasse, mas também para toda a equipe da ASAB, que o acompanhou de perto. Juntos, perseveraram na reconstrução de sua cidadania, autoestima e protagonismo. Desde 2017, a ASAB tem projetos apoiados pelo Phi.
Mas histórias como a de Taualasse ainda enfrentam um dos maiores obstáculos: o preconceito. A marca do sistema penal costuma fechar portas que só o apoio contínuo consegue reabrir. Sem uma nova chance, é quase impossível romper o ciclo da exclusão. A reinserção plena só acontece quando a sociedade escolhe acreditar que ninguém deve ser reduzido ao seu passado.

Duration: 2025, transformação social.
Apoio Emergencial às Brigadas Voluntárias e Comunitárias – Fundo Casa Socio Ambiental
Com o agravamento das mudanças climáticas, o Brasil enfrenta eventos extremos cada vez mais frequentes, como enchentes e queimadas — muitas vezes simultâneos e em regiões próximas, como Acre e Roraima, ambos na Amazônia.
Para responder a essas emergências, o Fundo Casa, com apoio do Instituto ITAÚSA, lança a convocatória “Reforço Imediato”, voltada a brigadas já formadas que atuam na prevenção e combate a incêndios florestais.
📍 Biomas atendidos: Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga e Mata Atlântica
💰 Valor por projeto: até R$ 20.000
⏳ Duração: até 4 meses (out. 2024 – jan. 2025)
📅 Propostas: a partir de 06/09/2024
📢 Resultados: divulgados semanalmente por e-mail e no site do Fundo Casa
Saiba mais em: https://casa.org.br/chamadas/reforco-imediato-apoio-emergencial-as-brigadas-voluntarias-e-comunitarias/
Duration: ativismo feminino, edital, juventude feminina.
Chamada para Organizações Comprometidas com a Erradicação da Pobreza através da geração de renda – Suzano
Duration: ativismo feminino, edital, juventude feminina.